Tarifas de Trump contra o Brasil: vitória de Bolsonaro ou vantagem de Lula?
Ao longo da história recente, as relações internacionais do Brasil têm sido marcadas por uma complexa dança de interesses, alianças e conflitos que moldaram o cenário político e econômico do país. Um episódio emblemático dessa dinâmica foi a imposição, por parte do governo dos Estados Unidos, de tarifas de 50% sobre as importações brasileiras, anunciado na semana passada por Donald Trump. Essa medida, que entrará em vigor em 1º de agosto de 2025, levanta uma série de questões sobre seus efeitos e suas motivações, especialmente em um contexto de forte polarização política interna e de estratégias de influência internacional.
Desde o final do mandato de Jair Bolsonaro, há uma evidente movimentação de seus apoiadores para tentar reverter o quadro político atual. Entre eles, destaca-se a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, que teria viajado aos EUA com o objetivo de organizar um lobby contra os interesses do Brasil naquele país. O principal objetivo parece ser a reintegração de Jair Bolsonaro ao poder, com a esperança de que Donald Trump, que ainda mantém influência considerável no cenário político norte-americano, possa apoiar esse projeto.
Essa estratégia inclui a disseminação de narrativas específicas, como a tentativa de criminalizar a atuação de ministros do Supremo Tribunal Federal, alegando censura às mídias sociais de brasileiros residentes nos EUA, ou a tentativa de criar um clima de perseguição judicial contra Bolsonaro, sob a acusação de “tentativa de golpe de Estado”. Além disso, há uma narrativa de desconforto gerado pelo projeto de desdolarização promovido pelo BRICS, que, segundo alguns apoiadores de Bolsonaro, estaria causando incômodo nos círculos de poder de Washington. No entanto, essa narrativa desconsidera o fato de que o Brasil, sob Lula, ainda é considerado uma peça frágil nessa estratégia, devido à sua postura ambígua em relação às questões internacionais e à própria estrutura do BRICS.
As principais vítimas dessas tarifas serão setores industriais e agrícolas que dependem das exportações para os EUA. Empresas como Embraer, Tupy, WEG, Iochpe-Maxion e Suzano podem sofrer impactos significativos. Destes, a Embraer se destaca, pois, além de sua importância econômica, ela vem crescendo como uma concorrente da Boeing, especialmente na divisão militar, e já vinha enfrentando dificuldades devido à crise da gigante americana.
O presidente Lula afirmou que tentará negociar para evitar a implementação das tarifas, mas também deixou claro que, caso sejam confirmadas, o Brasil adotará uma política de reciprocidade. Entre as medidas previstas estão tarifas de 50% sobre produtos importados dos EUA, além de possíveis quebras de tratados comerciais e suspensão de patentes e royalties americanos.
Porém, dada a tradição de política externa conciliatória do Brasil sob Lula, é provável que a resposta oficial seja mais moderada, buscando evitar uma escalada que prejudique ainda mais as relações bilaterais. Além disso, os interesses econômicos, especialmente do agronegócio e do setor industrial, que dependem dos mercados norte-americanos, dificultam uma postura de retaliação mais agressiva.
Um aspecto crucial dessa crise tarifária é seu efeito na conjuntura política brasileira. Um dos objetivos dos apoiadores de Bolsonaro era que as tarifas ajudassem a consolidar uma narrativa de confronto e de fortalecimento de sua base de apoio, especialmente diante de um cenário eleitoral que se aproxima. No entanto, sinais recentes indicam que essa estratégia pode ter saído pela culatra.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um político considerado de direita moderada e potencial candidato à presidência, decidiu negociar de forma independente com os EUA, buscando cancelar as tarifas. Essa postura foi criticada por influenciadores ligados ao bolsonarismo, o que indica uma possível fragmentação do apoio à estratégia de confrontação. Além disso, setores do agronegócio também manifestaram insatisfação com o lobby tarifário, preferindo uma aproximação com o governo Lula para uma posição mais coordenada e menos arriscada.
Na opinião pública, o sentimento majoritário parece ser de rejeição às ações de Eduardo Bolsonaro e de seus apoiadores, pois a maioria dos brasileiros prioriza a estabilidade econômica e o emprego acima de disputas políticas de curto prazo. Nesse cenário, a possibilidade de Lula recuperar algum impulso político, ao contrário do que pretendiam os apoiadores de Bolsonaro, parece mais provável.
Seja qual for o resultado final, o episódio das tarifas de Trump evidencia que estratégias de intervenção ou intimidação internacional, quando mal planejadas, tendem a consolidar os governos nacionais afetados, em vez de enfraquecê-los. O Brasil, ao tentar usar uma medida de força para beneficiar uma narrativa de retaliação política, corre o risco de prejudicar sua economia e sua diplomacia, além de fortalecer a percepção de que suas ações externas são conduzidas mais por interesses ideológicos do que por uma estratégia de Estado.
No longo prazo, os prejuízos econômicos de uma guerra tarifária com os EUA podem influenciar o cenário eleitoral, dificultando a reeleição de Lula ou reforçando a oposição a ele. Por ora, o que se observa é uma tentativa de rescaldo político, com resultados ainda incertos, e uma lição clara: estratégias internacionais que não consideram suas consequências econômicas e diplomáticas podem acabar prejudicando quem as promove, mais do que seus alvos.