Relatos de devastação em Gaza: uma análise da destruição e suas implicações
Nos últimos meses, a situação na Faixa de Gaza tem se agravado de maneira alarmante, com dados de satélite revelando uma escala de destruição sem precedentes. Novas imagens mostram que pelo menos 70% dos edifícios da região foram severamente danificados ou completamente destruídos, um impacto que ultrapassa as estimativas iniciais e evidencia a intensidade do conflito.
De acordo com análises recentes do Centro de Sistemas de Informação Geográfica da Universidade Hebraica, lideradas pelo especialista Adi Ben-Nun, as imagens revelam uma destruição abrangente em todas as áreas de Gaza. "Os moradores não têm para onde retornar. Seus lares, suas vidas, simplesmente desapareceram", afirma Ben-Nun. Ele estima que aproximadamente 160.000 edifícios — cerca de 70% de toda a infraestrutura da região — sofreram danos graves, tornando-os inabitáveis. Ainda que as limitações técnicas das imagens possam subestimar a extensão total dos danos, os números indicam uma crise humanitária de proporções devastadoras.
A cidade de Rafah, localizada no sul da Faixa, sofreu os danos mais severos, com cerca de 89% de suas estruturas destruídas ou parcialmente destruídas. Antes do conflito, Rafah abrigava aproximadamente 275.000 habitantes, muitos dos quais agora se encontram sem lar ou meios de reconstrução. Outros centros, como Khan Yunis, tiveram cerca de 63% de seus edifícios danificados, enquanto no norte de Gaza — incluindo cidades como Beit Hanoun, Beit Lahia e o campo de refugiados de Jabalya — a destruição atinge 84%. A cidade de Gaza, no norte, também apresenta uma estimativa de 78% de suas estruturas destruídas. A única área com menor impacto é Deir al-Balah, com cerca de 43% de danos, indicando que a destruição ainda não é uniforme em toda a região.
Além das residências, a destruição inclui instituições essenciais, como escolas, universidades e estradas. Segundo dados da ONU, todas as universidades de Gaza foram total ou parcialmente destruídas, e mais de 500 escolas estão inoperantes sem reparos significativos. As vias de transporte também sofreram danos extensivos, com 81% delas afetadas, dificultando ainda mais a assistência humanitária e o deslocamento de civis.
Estima-se que o volume de entulhos de construção chegue a cerca de 50 milhões de toneladas — uma quantidade equivalente a 14 vezes o lixo gerado por todos os conflitos armados do mundo desde 2008. A limpeza desses resíduos, que leva atualmente cerca de 21 anos e custa aproximadamente US$ 1,2 bilhão, representa um desafio monumental para a reconstrução da região.
Inicialmente, a destruição foi causada por bombardeios aéreos, explosivos e estruturas minadas, mas nos últimos meses, a destruição tem sido predominantemente realizada por meios mecânicos, muitas vezes por empreiteiros privados contratados pelo Ministério da Defesa israelense. Oficiais da IDF indicam que esses trabalhadores podem ganhar até 5.000 shekels (cerca de US$ 1.500) por prédio demolido, e há relatos de pressão sobre os comandantes para ampliar o escopo da destruição.
Um dos protagonistas dessa operação é o rabino Avraham Zarbiv, que se destacou por suas declarações públicas, nas quais afirma que "Deus quer que limpemos a terra" e que toda essa destruição é uma missão divina. Zarbiv, que atua como operador de escavadeira durante seu serviço na reserva, declarou ao site de direita B'Sheva que Rafah está sendo "limpa" e que o trabalho de destruição é uma espécie de missão espiritual, justificando as ações como uma necessidade de eliminar o mal e purificar a terra.
A mudança de objetivos durante o conflito também é evidente. Enquanto inicialmente a destruição buscava expor áreas próximas às fronteiras e posições militares, atualmente ela visa a eliminação de centros de resistência e infraestrutura vital. Declarações de líderes israelenses, como o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, indicam planos de expulsão forçada dos moradores de Gaza, inclusive discutindo parcerias com países dispostos a acolher refugiados da região.
A destruição em Gaza é um fenômeno de proporções catastróficas, com consequências humanitárias, sociais e políticas profundas. Os relatos de satélite, aliados às declarações de atores envolvidos, ilustram uma realidade de devastação que exige atenção internacional e esforços coordenados de reconstrução. Mais do que uma questão de guerra, trata-se de uma crise humanitária que impacta milhões de civis, cujas vidas foram irreversivelmente alteradas.
Este artigo busca oferecer uma análise imparcial e informativa baseada nos dados disponíveis até o momento, enfatizando a urgência de soluções que respeitem os direitos humanos e promovam a paz na região.