Os países BRICS podem nos levar a um mundo melhor?
Nos últimos anos, os países que compõem o grupo BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — vêm ganhando destaque no cenário internacional. Sua busca por maior autonomia econômica e por um sistema financeiro que não dependa exclusivamente do dólar dos Estados Unidos tem gerado tanto alarmismo quanto esperança. Mas será que essa iniciativa pode realmente conduzir a uma sociedade global mais justa, estável e próspera? Para responder a essa questão, é importante entender o contexto histórico, as dinâmicas atuais do sistema financeiro internacional e as possíveis implicações de um mundo multipolar.
Até meados do século XX, o sistema monetário internacional foi baseado no padrão-ouro, onde as moedas eram lastreadas em ouro físico. Após a Segunda Guerra Mundial, os Aliados estabeleceram o sistema de Bretton Woods, que fixou o dólar como moeda de reserva global, lastreado parcialmente em ouro, com a taxa de US$ 35 por onça. Essa estrutura proporcionou estabilidade, facilitou o comércio internacional e ajudou na reconstrução pós-guerra. No entanto, com o tempo, a dependência do dólar se mostrou uma fraqueza: os EUA começaram a imprimir mais dólares sem respaldo em ouro, levando à crise de 1971, quando Richard Nixon encerrou a convertibilidade do dólar em ouro. Assim nasceu a era do dólar fiduciário, um dinheiro baseado na confiança, mas cada vez mais vulnerável à inflação e às políticas monetárias expansionistas.
Desde então, o dólar consolidou sua posição como moeda dominante no comércio global, nas reservas internacionais e nos mercados financeiros. Entretanto, esse domínio também trouxe problemas: a dependência excessiva de uma única moeda pode gerar instabilidades, especialmente quando há abusos de poder econômico ou geopolítico, como sanções financeiras, congelamento de ativos ou exclusões do sistema SWIFT. Além disso, a contínua expansão da base monetária dos EUA e a perda de poder de compra do dólar tornam cada vez mais evidente a fragilidade dessa hegemonia.
Nesse cenário, países como Brasil, Rússia, Índia e China têm buscado alternativas ao sistema dolarizado, promovendo iniciativas como o sistema de pagamento BRICS Pay, que visa reduzir a dependência de redes financeiras controladas pelos EUA. Essa busca por autonomia financeira reflete um desejo de criar um sistema mais equilibrado, onde o poder não esteja concentrado em uma única nação ou moeda.
Uma das soluções discutidas por analistas como Alasdair Macleod é o retorno a um sistema de liquidação comercial internacional lastreado em ouro. O ouro, ao contrário do dinheiro fiduciário, possui valor intrínseco e serve como reserva de valor ao longo da história. A China, por exemplo, planeja estabelecer cofres e bancos de ouro fora de suas fronteiras, facilitando depósitos de ouro de nações do BRICS em locais como Hong Kong ou Arábia Saudita. Essa estratégia visa criar um sistema de liquidação descentralizado, transparente e menos suscetível a manipulações políticas ou econômicas.
Um sistema baseado em ouro reduziria o risco de confisco, desalavancaria a inflação e proporcionaria maior disciplina monetária. Países que atualmente acumulam reservas em dólares poderiam optar por manter reservas em ouro, protegendo-se da desvalorização de suas moedas fiduciárias. Além disso, a adoção de uma moeda lastreada em ouro facilitaria o comércio internacional, promovendo uma economia global mais estável e previsível.
Se implementado de forma ampla, um sistema de liquidação baseado em ouro poderia transformar o cenário econômico mundial. Entre os benefícios estão:
- Redução da dependência de uma única moeda, promovendo um sistema mais multipolar;
- Estímulo ao comércio internacional ao eliminar riscos relacionados à manipulação monetária;
- Menor volatilidade e inflação, com maior estabilidade no poder de compra das moedas;
- Fortalecimento do sistema de reservas internacionais, tornando-o mais sólido e confiável.
- A transição de um sistema fiduciário para um baseado em ouro requereria coordenação internacional e confiança mútua;
- O volume de ouro disponível no mundo pode não ser suficiente para suportar toda a liquidez global;
- A valorização do ouro pode impactar negativamente as economias que dependem de políticas monetárias expansionistas;
- Países podem resistir à perda de controle sobre suas políticas econômicas ao adotarem um padrão rígido de lastro em ouro.
Apesar dos obstáculos, a busca por um sistema monetário mais justo e equilibrado é um passo na direção de um mundo mais pacífico e próspero. A alternativa ao domínio do dólar e ao sistema fiduciário atual é uma oportunidade de reduzir desigualdades econômicas, evitar crises financeiras causadas por bolhas especulativas e promover uma ordem global mais democrática.
Os países do BRICS, ao desafiar a hegemonia do dólar e promover iniciativas como o uso de ouro e sistemas de pagamento descentralizados, estão contribuindo para essa transformação. Se bem-sucedidos, esses esforços podem abrir caminho para uma economia mundial mais sustentável, menos sujeita às crises de confiança e manipulação.
Os países BRICS têm potencial para nos levar a um mundo melhor ao promoverem a diversificação do sistema financeiro internacional e ao buscarem alternativas ao dólar que sejam mais sólidas e justas. O retorno ao padrão-ouro, embora desafiador, representa uma oportunidade de criar uma economia global mais estável, transparente e pacífica. Assim, longe de serem uma ameaça, essas iniciativas podem ser um passo decisivo rumo a uma convivência internacional mais equilibrada e sustentável, onde o comércio e a cooperação prevaleçam sobre a guerra e a exploração financeira.