O desprezo da liberdade
O desprezo da liberdade

Os socialistas desprezam a liberdade individual porque acreditam que permitir que os humanos façam escolhas livres supostamente leva a um comportamento egoísta e antissocial. No entanto, ao negar a escolha individual, os socialistas estão negando a própria ação humana.

Os seres humanos agem. Isto é: eles se envolvem em comportamentos propositais com o objetivo de transformar suas condições em um estado que preferem mais. Este axioma fundamental é irrefutável  certo. Negá-lo é afirmá-lo — pois até mesmo o ato de negação é em si uma ação: uma tentativa proposital de afirmar uma posição. Assim, a verdade da ação humana não depende de verificação empírica; ela é válida em todos os mundos possíveis onde a ação ocorre. É uma categoria da mente, uma pré-condição necessária para a compreensão do comportamento humano.

Isso não é relativismo. Nem ideologia. Não se testa "2 + 2 = 4" em laboratório. Da mesma forma, não são necessários experimentos psicológicos para provar que o homem age para aliviar o desconforto sentido de acordo com suas próprias preferências. Ambas são verdades a priori, não empíricas.

Mas os coletivistas insistem: “Observamos altruísmo, amor ou comportamento coletivista — então a praxeologia deve estar enganada!”

Tais objeções interpretam mal a natureza da ação. A praxeologia não nega que as pessoas agem de maneiras que beneficiam os outros. Ela simplesmente explica que mesmo esses atos são escolhidos pelo agente porque refletem sua própria escala de valores. Cada ação — por mais altruísta que pareça — é uma expressão daquilo que o agente, naquele momento, mais valoriza.

Toda ação humana é necessariamente "egoísta" no sentido praxeológico — porque decorre da escolha do próprio indivíduo de aliviar o desconforto. A noção de "ação altruísta" desmorona sob escrutínio. Toda escolha é feita porque satisfaz o agente mais do que as alternativas abandonadas. O termo "egoísta", então, torna-se tautológico: toda ação é auto originada e visa assegurar um estado mais desejável do ponto de vista do próprio agente.

Sem o ego egoísta — o indivíduo que age, escolhe e valoriza — não há fundamento para qualquer estrutura conceitual. Todas as categorias, como amor, justiça, sacrifício ou mesmo a própria sociedade, pressupõem um ser autoconsciente capaz de atribuir valores, fazer julgamentos e agir de acordo com eles.

Todo conceito de ordem superior — dever, compaixão, lealdade, até mesmo lógica — repousa na presença de um "eu" que os escolhe. Se não houvesse ego para preferir, para sentir desconforto, para buscar aprimoramento, não haveria razão, moralidade, linguagem, valor, vida.

Considere a ideia de "amor incondicional". Ela pressupõe um indivíduo atuante — um sujeito que sente, escolhe e valoriza. Não há amor sem um "eu" que ama e um "tu" que é amado. Afirmar que o amor é "incondicional" é obscurecer a natureza da escolha. É preciso primeiro conceber o objeto de amor, ponderar alternativas e, então, escolher manter esse compromisso. Isso não pode ocorrer no vácuo — surge de uma hierarquia de valores individuais.

Quando alguém diz "Eu amo incondicionalmente", está expressando um julgamento de valor. Ele ama porque isso traz satisfação — talvez paz emocional, realização espiritual ou fidelidade a um ideal. Mas o ato de amar ainda é uma escolha, feita porque alivia melhor o desconforto ou realiza um objetivo pessoal.

O altruísmo também não é a negação do eu. É uma preferência auto escolhida por satisfazer a necessidade do outro, apenas porque esse resultado é mais valioso para o agente do que qualquer alternativa. Até mesmo o soldado no campo de batalha, ou a mãe que abre mão do conforto para o filho, age de acordo com o que considera mais importante — seja honra, amor, dever ou fé. É sempre o que é mais valioso para o agente. É sempre um ato egoísta.

Nesse ponto, a mente coletivista começa a chorar. De fato, suas lágrimas fluem não da refutação, mas do confronto com uma verdade da qual não podem escapar: a de que até mesmo suas noções exaltadas de "amor" e "altruísmo" se baseiam em uma valoração auto originada. Choram porque o mito se desfaz. Choram porque a máscara da abnegação é arrancada, revelando o ego soberano por trás de cada gesto de cuidado ou sacrifício.

Não é crueldade expor isso; é clareza. A tarefa da praxeologia é dissipar a névoa do sentimentalismo e mostrar que nenhuma ação existe à parte da escolha, e nenhuma escolha existe à parte de quem escolhe. O que eles chamam de "incondicional" e "altruísta" é meramente uma condição que eles valorizam acima de todas as outras.

E é então que a mão coletivista começa a buscar uma arma — ironicamente, uma arma nascida do desejo egoísta concebido em liberdade — não para lamentar, mas para silenciar. Quando a verdade não pode ser negada pela lógica, ela é enfrentada com força e ideologia.

Portanto, tudo o que nega a primazia do indivíduo como única fonte de ação é inerentemente maligno — não é apenas destrutivo para a vida individual e a coordenação econômica, mas também para a liberdade, a dignidade e a própria civilização. A tentativa de construir ética, política ou economia sem o ego é um absurdo metafísico. O ego autocentrado não é uma falha moral; é a própria condição para o significado, a escolha e para a própria vida. Destrua o eu e você destruirá o próprio espaço em que a verdade, o amor ou o altruísmo poderiam sequer ser pensados.

O coletivista busca substituir o agente humano pela abstração de uma vontade coletiva. Mas tal vontade não existe; ela não pode escolher; ela não pode avaliar. É sempre uma máscara — usada pelo tirano, pelo planejador, pelo burocrata — que suplanta o indivíduo e extingue a única fonte genuína de progresso: as ações espontâneas dos homens livres.

Todas as doutrinas coletivistas — sejam socialistas, fascistas, nacionalistas ou teocráticas — exigem a subjugação do indivíduo a um todo fictício. Elas não são apenas moralmente repugnantes; são irracionais. Pois buscam aniquilar o próprio mecanismo da vida: a própria ação humana. Portanto, quando dizemos que qualquer coisa que não seja a liberdade — a anarquia no sentido próprio — é anti humana, não estamos fazendo uma afirmação ideológica, nem nos envolvendo em retórica partidária. Estamos afirmando uma verdade lógica — enraizada na natureza do homem como ser atuante.

Liberdade não é um "valor" no sentido relativista. É uma condição necessária para a ação humana. Somente um indivíduo livre pode escolher, preferir e agir. Sem liberdade, não há agente — apenas obediência e decadência.

Um sistema que nega a liberdade — por decreto, coerção e abstração coletivista — busca extinguir a única agência pela qual a vida humana se sustenta: a mente individual que escolhe. Abolir a liberdade é abolir a ação. Abolir a ação é abolir a vida.

 

   

 

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