Israel inunda o YouTube com anúncios para encobrir
Israel inunda o YouTube com anúncios para encobrir

 

Israel inunda o YouTube com anúncios para encobrir o genocídio em Gaza e a ofensiva do Irã

Nos últimos meses, uma campanha de grande escala no YouTube tem chamado a atenção por seu impacto e controvérsia. Segundo uma investigação publicada pelo MintPress News em 18 de julho de 2025, o governo de Israel estaria gastando dezenas de milhões de dólares por dia na veiculação de anúncios com o objetivo de moldar a opinião pública na Europa. Essa estratégia visa, sobretudo, justificar suas ações militares em Gaza e reforçar uma narrativa de ameaça iminente do Irã, envolvendo uma tentativa de encobrir os verdadeiros custos humanos dessas operações.

De acordo com o relatório, a Agência de Publicidade do Governo de Israel investiu aproximadamente dezenas de milhões de dólares em anúncios traduzidos para cinco idiomas — inglês, francês, italiano, alemão e grego — que alcançaram cerca de 45 milhões de usuários do YouTube no último mês. Os anúncios têm como alvo espectadores nesses países, retratando Israel como uma vítima do terrorismo e uma força global do bem, enquanto apresentam o Irã como uma ameaça existencial à Europa.

Mensagens transmitidas nesses anúncios incluem afirmações como: “Um regime fanático [iraniano] disparando mísseis contra civis, enquanto corre em direção às armas nucleares... Cumpriremos a missão pelo nosso povo, pela humanidade. Israel faz o que precisa ser feito.” Outros alertam para o desenvolvimento de mísseis iranianos com alcance de aproximadamente 4.000 quilômetros, colocando a Europa sob risco de ataque, enquanto gráficos vermelhos e imagens de cidades europeias sob ameaça reforçam essa narrativa.

Além dos aspectos militares, há também uso de apelos emocionais: anúncios retratam mães com recém-nascidos sob fogo de foguetes iranianos, sugerindo que, enquanto o Irã ataca civis, Israel responde com precisão, atingindo apenas alvos militares legítimos. Essa estratégia busca criar uma percepção de proporcionalidade e justificativa moral para as ações israelenses.

Contudo, o relatório do MintPress evidencia que há imprecisões factuais nesses anúncios. Apesar do esforço de Israel de minimizar vítimas civis, dados mostram que, desde 13 de junho, pelo menos 935 iranianos foram mortos em ataques israelenses, em comparação com 28 mortes israelenses em retaliações iranianas por ataques de mísseis. Além disso, há relatos de destruição massiva de infraestrutura médica em Gaza: cerca de 94% dos hospitais foram danificados ou destruídos, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) documentou 697 ataques israelenses a instalações médicas. Esses ataques resultaram na morte ou ferimento de mais de 50.000 crianças palestinas e na morte de mais de 1.400 profissionais de saúde, incluindo o Dr. Adnan al-Bursh, que foi torturado até a morte sob custódia israelense.

Apesar do bloqueio de ajuda humanitária imposto por Israel, que contribui para a morte de crianças por desnutrição, os anúncios promovem uma narrativa diferente, afirmando que Israel realiza "uma das maiores operações humanitárias do mundo". Um vídeo do Ministério das Relações Exteriores de Israel, por exemplo, afirma: “É assim que se parece a verdadeira ajuda. Sorrisos não mentem. O Hamas, sim.”

A investigação também destaca uma falha significativa por parte do Google, proprietário do YouTube, em aplicar suas próprias políticas de publicidade, que proíbem conteúdo que promova ódio, violência ou discriminação. Todos os vídeos mencionados pelo MintPress estão listados no Centro de Transparência de Anúncios do Google como conteúdo pago pelo governo israelense, levantando questionamentos sobre a efetividade das medidas de fiscalização da plataforma.

Essa campanha publicitária é apenas uma faceta de um esforço mais amplo de diplomacia pública. O orçamento destinado às ações de relações públicas de Israel cresceu mais de 2.000% nos últimos anos, com um adicional de US$ 150 milhões alocados ao Ministério das Relações Exteriores para iniciativas de comunicação internacional. Esse aumento reflete a preocupação do governo israelense em moldar narrativas globais favoráveis, minimizando as críticas às ações no conflito de Gaza e às políticas de militarização da região.

Em suma, o relatório do MintPress expõe uma estratégia de comunicação sofisticada e milionária, que busca manipular a percepção internacional acerca do conflito em Gaza e da ameaça iraniana, enquanto questões humanitárias e factuais frequentemente ficam de fora do debate público. A transparência e a responsabilidade das plataformas digitais, como o YouTube e o Google, tornam-se essenciais para garantir que esse tipo de propaganda não disfarce a gravidade das violações de direitos humanos e dos custos humanos dessas operações militares.

*Este artigo busca oferecer uma análise crítica sobre as dinâmicas de informação e propaganda em tempos de conflito, ressaltando a importância de uma cobertura jornalística independente e fundamentada na veracidade dos fatos.*

 

   

 

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