Como os marxistas apagam a vontade e a agência
Como os marxistas apagam a vontade e a agência

Como os marxistas apagam a vontade e a agência humanas

A influência do marxismo na história, na filosofia e nas ciências sociais é profunda e multifacetada. Entretanto, uma das suas consequências mais perniciosas é a forma como diminui, ou até mesmo anula, a noção de vontade e agência humanas, substituindo-as por uma visão determinista das ações individuais como meramente reflexos de estruturas econômicas e sociais. Este artigo busca explorar como essa perspectiva marxista apaga a liberdade de decisão, reduzindo o ser humano a um produto de forças coletivas e circunstâncias históricas, e como isso impacta nossa compreensão da ação humana na sociedade.

A história marxista, muitas vezes, é apresentada como uma narrativa de conflitos de classes e materialismo dialético. Embora essas categorias sejam centrais para a teoria marxista, sua influência vai além delas, penetrando na concepção de responsabilidade e liberdade individual. Como destaca o historiador Eric Foner, a interpretação marxista da história tende a enfatizar os processos econômicos e sociais, muitas vezes em detrimento da autonomia do sujeito histórico. Ele mesmo, ao evitar o rótulo de "marxista", reconhece que sua análise da época da Reconstrução é influenciada por ideias marxistas, embora prefira uma abordagem "objetiva". Essa postura revela a dificuldade de separar a influência marxista do discurso acadêmico, mesmo entre aqueles que tentam manter uma visão mais neutra.

No cerne dessa visão está a ideia de que a ação humana é inevitavelmente determinada pelas circunstâncias materiais. Os marxistas argumentam que as escolhas individuais não são fruto de uma vontade livre, mas de fatores como classe social, raça, ou a "força de produção". Assim, a agência humana é vista como uma ilusão, uma consequência das condições socioeconômicas que moldam o pensamento e o comportamento das pessoas. Como explica David Gordon em "Mises Contra Marx", a teoria marxista sustenta que a vontade humana está subordinada às "forças de produção", e que as decisões pessoais são reflexo de uma estrutura de interesses de classe.

Ao contrário dessa visão, Ludwig von Mises, em sua obra "Ação Humana", defende a ideia de que o ser humano possui vontade e capacidade de agir com propósito. Para Mises, a ação humana é uma atividade deliberada, na qual o indivíduo escolhe entre diferentes possibilidades para alcançar seus fins. Ele afirma que “o homem em ação escolhe, determina e tenta alcançar um fim”, destacando a autonomia do indivíduo frente às circunstâncias externas. Para ele, a vontade é a faculdade de selecionar entre diferentes alternativas, de preferir um estado de coisas e de agir para realizá-lo.

A perspectiva marxista, ao insistir que as ações humanas são determinadas por sua posição de classe ou por sua raça, nega essa liberdade. Essa visão reducionista implica que as escolhas de uma pessoa não derivam de sua vontade consciente, mas de sua condição social ou biológica. Por exemplo, a crença de que negros nos Estados Unidos não podem ser felizes ou que suas opiniões são simplesmente reflexos de sua posição racial é uma tentativa de eliminar a agência individual, substituindo-a por uma determinação coletiva baseada em estereótipos. Como observa Ariana Doss, essa visão sugere que a liberdade de pensamento ou de expressão de um indivíduo negro, por exemplo, é sempre condicionada por sua raça ou classe social, negando a sua capacidade de escolher livremente.

Essa abordagem tem implicações profundas para a concepção de responsabilidade e moralidade. Se as ações são determinadas por estruturas coletivas, então o indivíduo não pode ser plenamente responsável por seus atos, pois estes seriam apenas uma consequência de forças externas. Isso é particularmente evidente na crítica marxista à ideia de responsabilidade individual na história ou na política, onde as ações são vistas como inevitáveis resultados de interesses de classe ou de condições sociais.

Além disso, ao estender essa lógica à teoria racial, o marxismo e suas derivações feministas ou críticas da raça tendem a desconsiderar a vontade individual, tratando as pessoas como meros produtos de suas identidades coletivas. Essa visão elimina a possibilidade de escolhas livres, de autotransformação ou de autonomia pessoal. Como afirma Mises, a ação humana é deliberada, e o que distingue o homem dos animais é precisamente sua capacidade de ajustar conscientemente seu comportamento, dominar impulsos e exercer sua vontade racional.

Rejeitar essa concepção de agência é, portanto, uma forma de apagar a liberdade individual, tornando o ser humano uma peça passiva nas engrenagens de um sistema maior. Essa visão determinista serve, muitas vezes, para justificar políticas de controle social ou de redistribuição, sob a alegação de que os indivíduos não podem agir de forma diferente das condições que lhes foram impostas. Assim, o marxismo não apenas interpreta a história e a sociedade como produtos de forças econômicas, mas também reduz o indivíduo a um agente sem autonomia, cuja vontade é subordinada às estruturas coletivas.

Em conclusão, enquanto o marxismo oferece uma narrativa poderosa de luta de classes e transformação social, ele também contribui para uma visão desumanizadora ao apagar a vontade e a agência humanas. Reconhecer a capacidade de escolha, de autonomia e de ação deliberada é fundamental para valorizar a dignidade do indivíduo e para promover uma sociedade onde a liberdade de pensar e agir seja plenamente respeitada. Como destacou Mises, a ação humana é um fenômeno de liberdade, e essa liberdade deve ser preservada contra as tentativas de reduzi-la a meras manifestações de estruturas deterministas.

 

   

 

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