A Verdade por Trás da Exportação de Carne Bovina para os Estados Unidos e a Mídia Sensacionalista
Nos últimos meses, a narrativa de uma possível crise na exportação de carne bovina brasileira para os Estados Unidos tem ganhado destaque na mídia e entre alguns analistas de mercado. O principal motivo dessa preocupação é a imposição de tarifas tarifárias de até 50% pelo governo americano, sob o argumento de proteger a indústria local e buscar equilibrar a balança comercial. Contudo, ao aprofundar a análise, é possível perceber que muitas dessas discussões são superficiais, distorcidas e deixam de lado fatos essenciais que revelam um cenário bem mais complexo e, sobretudo, menos catastrófico do que o propagado.
De modo geral, a mídia tradicional e alguns analistas têm insistido na questão de se o Brasil conseguirá redirecionar suas exportações para outros mercados, como China, Europa e Ásia, diante da possível redução nas vendas para os EUA. A resposta mais comum, muitas vezes obtida por análises superficiais ou buscas rápidas na internet, é que sim, o Brasil possui capacidade de diversificação e que essa estratégia é rotineira. Porém, essa resposta, embora seja tecnicamente verdadeira, não captura toda a complexidade do cenário, que envolve fatores econômicos, logísticos, políticos e de mercado.
Especialistas renomados no setor de pecuária afirmam que a sobretaxa de 50% anunciada pelo ex-presidente Donald Trump surpreendeu apenas quem não vinha se preparando para os desafios do comércio internacional. De fato, o Brasil já possuía, há algum tempo, estratégias de diversificação de mercados e frigoríficos brasileiros estavam ajustados para atuar diante de cenários adversos. Análises internas demonstram que esses frigoríficos estavam alinhados para lidar com possíveis reduções nas exportações para os EUA, ajustando suas operações, buscando mercados alternativos e evitando dependência excessiva de um único destino.
Como exemplo, em abril de 2025, o Brasil exportou quase 48 mil toneladas de carne bovina para os EUA — o maior volume do ano até então. Entretanto, nas semanas seguintes, especialmente em maio e junho, houve uma desaceleração nas compras americanas. Essa redução não deve ser vista como sinal de crise, mas sim como uma estratégia de adaptação ao cenário tarifário, uma medida de proteção de margem por parte dos exportadores.
Outro ponto fundamental muitas vezes ignorado na narrativa sensacionalista é a capacidade de consumo interno de carne bovina no Brasil. Atualmente, o país consome aproximadamente 8,2 milhões de toneladas de carne bovina por ano, o que equivale a cerca de 684 mil toneladas por mês ou aproximadamente 23 mil toneladas por dia. Assim, mesmo que toda a carne exportada para os EUA em um único mês fosse redirecionada ao mercado interno, ela seria consumida em poucos dias. Portanto, a ideia de que o “fim das exportações” causaria o colapso do mercado interno é, no mínimo, um equívoco grosseiro.
Movimentos prévios de exportação indicam que o setor de frigoríficos já vinha se preparando para o cenário de aumento de tarifas. Quando a desaceleração das exportações para os EUA ocorreu em maio e junho, ela foi uma resposta estratégica de proteção de margem e ajuste de mercado, não uma crise de mercado. Além disso, o mercado de gado gordo no Brasil mostra sinais de oferta restrita, com produtores ofertando o mínimo necessário ou até saindo do mercado, ante a expectativa de preços menores e maior vulnerabilidade financeira.
Especialistas reforçam que a narrativa de que o Brasil não consegue substituir o mercado americano é falsa. Os dados mostram que, mesmo considerando o volume exportado em abril, o que foi enviado aos EUA representa pouco mais de oito dias de consumo interno. Dessa forma, o foco principal deve estar na gestão interna, na precificação adequada e na manutenção de margens de lucro, e não em uma ameaça de colapso total.
Ao contrário do que discursos sensacionalistas propagam, o Brasil está preparado para lidar com a guerra tarifária e a possível redução nas exportações para os EUA. A diversificação de mercados, a adaptação dos frigoríficos e a compreensão do consumo interno são elementos que demonstram uma resiliência que muitas vezes é subestimada.
O cenário, embora desafiador, não é de desastre iminente. É fundamental que os analistas, mídia e setor produtivo mantenham uma análise equilibrada, baseada em fatos e dados concretos. Assim, será possível enfrentar as adversidades com estratégia, sem cair em alarmismos que apenas alimentam o medo e a desinformação, prejudicando a imagem do setor e a confiança dos investidores.