A crise na Bolívia: terrorismo, chantagem e a ameaça de um tirano
Nos últimos meses, a Bolívia tem vivenciado uma situação de instabilidade profunda, marcada por ações de terrorismo, chantagem e uma sede de poder que revela uma faceta autoritária do ex-presidente Evo Morales. O que inicialmente parecia uma disputa política transformou-se em uma verdadeira guerra de guerrilha contra o Estado de Direito, colocando em risco a integridade das instituições democráticas e a segurança da população boliviana.
O início do conflito remonta à decisão do Tribunal Constitucional que, de forma unânime, desqualificou Morales de participar das próximas eleições presidenciais, baseando-se na limitação constitucional de dois mandatos para presidentes e vice-presidentes. Morales, que já havia governado por três mandatos e tentava, agora, uma quarta reeleição, reagiu com uma estratégia de mobilização de apoiadores e ações ilegais para retomar o poder. Sua postura agressiva ficou evidente em 12 de maio de 2025, quando afirmou em comício: "Se não nos deixarem concorrer, não sei o que vai acontecer, o povo vai se levantar". Naquele momento, Morales já tinha um mandado de prisão por acusações graves, incluindo estupro agravado com tráfico de pessoas, e se encontrava escondido na região de Chapare, controlada por seus apoiadores.
A resposta às suas ações foi marcada por episódios de violência e provocação. Marchas pró-Morales tentaram violar os perímetros de segurança da Justiça Eleitoral, enfrentando repressão policial com gás lacrimogêneo. Em ataques subsequentes, incluindo o uso de dinamite e pedras, os apoiadores de Morales buscaram intimidar e ameaçar os funcionários eleitorais, além de ameaçar suas famílias. Essas ações representam uma escalada de violência que visa não apenas desestabilizar o processo eleitoral, mas também impor uma narrativa de que o Estado estaria perseguindo Morales de forma injusta.
As ameaças explícitas, como as proferidas por líderes dos sindicatos indígenas pró-Morales, indicam uma estratégia de chantagem que busca intimidar o governo e os funcionários públicos, com ameaças de expor parentes e divulgar identidades, caso suas demandas não sejam atendidas. Analistas jurídicos alertam que Morales estaria disposto a incendiar o país para garantir seu retorno ao poder, evidenciado por gravações que sugerem planos de cerco às cidades de La Paz, Cochabamba, Santa Cruz e outros pontos estratégicos, numa tentativa de criar uma crise de proporções nacionais.
O governo boliviano respondeu com ações judiciais e operações de força, mas a violência não diminuiu. Serviços essenciais, como ambulâncias e equipes médicas, tornaram-se alvos de ataques, com médicos e pacientes sendo agredidos, obrigados a caminhar por longas distâncias sob ameaça. Moradores de regiões como Cruce Tiraque relatam serem coagidos a participar de bloqueios sob pena de multas ou saques, enquanto mais de 24 bloqueios de estradas permanecem ativos, prejudicando a circulação, o abastecimento e a segurança do país.
A situação atingiu um ponto crítico em junho, especialmente na cidade de Llallagua, no departamento de Potosí. Após uma semana de isolamento, com escassez de alimentos, combustível e medicamentos, grupos radicalizados atacaram civis, unidades policiais e instalações públicas, resultando em pelo menos 33 feridos e várias mortes, incluindo policiais, civis e um jovem de 17 anos. A resposta policial, embora eventual, foi marcada por uma operação violenta que resultou na morte de pelo menos oito pessoas, incluindo civis e agentes de segurança, além de feridos graves.
Evo Morales justificou a violência como "protestos sociais legítimos", mas suas ações demonstram uma estratégia de terror organizada. Os episódios de violência brutal, com civis sendo baleados, espancados, torturados e assassinados, revelam uma tentativa de impor um medo generalizado na população, enquanto grupos paramilitares e facções armadas controlam regiões estratégicas, como o Chapare, onde operam fora do alcance do Estado, formando uma espécie de república paralela.
A inação do governo e a falta de uma resposta firme têm permitido que esses grupos se consolidem, ameaçando a soberania nacional. As forças policiais, muitas vezes, atuam de forma hesitante ou até cúmplice, enquanto as forças paramilitares ameaçam e atacam quem tenta restabelecer a ordem. A situação em Llallagua exemplifica o grau de caos instaurado, com uma cidade sitiada, comércio destruído e uma presença policial precária diante de uma violência extremada.
A postura de Morales, que tenta justificar seus atos como protestos legítimos, mascarando uma campanha de terror, evidencia seu objetivo de desestabilizar o país para garantir sua volta ao poder. Não se trata apenas de uma disputa política, mas de uma tentativa de subversão do Estado de Direito por meios violentos e ilegais, usando bloqueios, ameaças, ataques e, sobretudo, o medo como instrumentos de coerção.
Se a Bolívia deseja sobreviver a essa crise, é imprescindível que suas instituições políticas e policiais deixem de tratar Evo Morales como um simples líder político e passem a reconhecê-lo como um criminoso e terrorista. O combate à sua influência deve ser firme, com o fortalecimento do Estado de Direito, a punição dos responsáveis por atos de violência e a proteção da população civil. A história recente mostra que, enquanto a complacência persistir, o custo será cada vez maior: vidas perdidas, territórios controlados por grupos ilegais e uma sociedade ferida e dividida.
Em suma, a crise na Bolívia é um alerta de que a luta contra o autoritarismo, o terrorismo e a impunidade é uma tarefa de todos. Não basta condenar as ações, é preciso agir com determinação para garantir que a nação possa trilhar um caminho de paz, democracia e justiça. O preço de não fazer isso é a perpetuação de um ciclo de violência e o risco de que o país nunca mais se recupere das feridas abertas por um homem que, sob a máscara do protesto social, travou uma guerra contra sua própria gente.